Estamos em ano eleitoral e, para além de sensibilidades exacerbadas e debates estéreis, começam a aparecer propostas concretas de mudanças de práticas e políticas públicas no Brasil. E neste momento tendem a prosperar tanto populismos, com fórmulas mágicas de transformação de uma realidade percebida como inaceitável, como ideias inovadoras, embora muitas vezes de difícil implementação.
Na verdade, precisamos, sim, de propostas ousadas e de líderes que as implementem. Mas o central nessa discussão é se os eleitos terão equipes com solidez técnica e política para mudar a realidade e não apenas boas ideias.
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Uma realidade indesejável se transforma com boas políticas públicas e é importante que elas sejam explicitadas nos programas dos candidatos. Mas a transformação requer também disposição de comprar as brigas necessárias, já que, dada a fragmentação de interesses instalada, há sempre algum grupo que se beneficia com o status quo e que se sentirá ferido com a mudança.
Carlos Matus, especialista chileno de planejamento governamental, preconizava em seu livro “O líder sem Estado-Maior” que presidentes dispusessem de uma equipe competente em processamento técnico e político das questões mais relevantes. Não basta ter boas propostas técnicas e monitorá-las, é fundamental, ao buscar o interesse coletivo, elaborar uma teoria da mudança em que se mapeiem eventuais opositores e se identifiquem coalizões passíveis de serem construídas para a implantação.
A política educacional, nesse caso, tem um desafio adicional: ela não gera resultados de curto prazo e torna pouco visíveis ações de governantes para aprimorá-la, especialmente neste momento em que o problema brasileiro está mais concentrado na qualidade do que apenas no acesso. A ênfase em currículo, atratividade da carreira, formação inicial e continuada de professores e equidade, questões particularmente urgentes para a melhoria do ensino, por envolver ações menos tangíveis, não permite a governantes a organização de eventos que deixem evidente sua marca política.
Por outro lado, a educação, como política pública, faz parte do legado de uma administração. Trata-se da base da construção de uma sociedade mais educada e preparada para os desafios do século 21, inclusive maior empregabilidade, em um contexto em que se projeta a extinção de cerca de 16 milhões de postos de trabalho até 2030, no Brasil, por automação. E o político que investir com seriedade na melhoria da educação básica será lembrado, se não por seus contemporâneos certamente pela história, como construtor de um país mais justo, menos desigual e mais competitivo.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 26/01/2018